CINE GUAÍRA

20/04/2011 09:03

Caros internautas, começo hoje a escrever sobre coisas e causos do passado de Carlópolis. Falarei sobre o cinema esta semana, inspirado pelo filme brasileiro “Tapete Vermelho”, com o ator Matheus Nachtergaele, vivendo o personagem chamado Quinzinho, que é fã ardoroso de Mazzaropi. Esse filme retrata a saga desse matuto do Vale do Paraíba, mais precisamente de uma área rural da região de Taubaté.
A história se desenrola quando ele sai à procura de um cinema para que seu filho possa assistir a um filme do seu ídolo. Passando por todas as cidades dessa região, não consegue realizar a vontade, pois quase todos os cinemas estão fechados ou não exibem filmes do Mazzaropi. Depois de muito penar, só consegue assistir na cidade de São Paulo.
Pois então, assim comecei a pensar sobre o nosso querido Cine Guaíra, que era de propriedade do Sr. Paulo Yoshitani. Esse nome foi escolhido através de um concurso, onde a nossa querida D. Zezinha, mãe do Julio Cezar (Baratão) foi a vencedora, e o premio foi assistir durante um ano, os filmes gratuitamente.
Aos domingos tínhamos as matines, e eu economizava minhas mesadas para que pudesse ir a todas as sessões. Esse cinema passou por um incêndio na década de 50, mas com a ajuda do povo carlopolense, conseguiram reinaugurá-lo.
Na década de 70, os filmes que mais fizeram sucesso em nossa tela, foram os Westerns italianos, um dos mais famosos foi o “Dólar furado” com o ator italiano Giuliano Gemma. Muitas vezes durante as sessões, o herói, após vencer as batalhas era ovacionado pela gurizada que torcia como numa partida de futebol, inocência essa, que hoje não se encontra mais em nossas crianças. Também as quartas feiras, tinha os filmes nipônicos onde toda a nossa colônia japonesa era homenageada. Tínhamos também os clássicos hollywoodianos, tais como: Os Dez Mandamentos, Sansão e Dalila, Romeu e Julieta, Marcelino Pão e Vinho, os filmes do Tarzan, do Elvis Presley e etc.
Quando saíamos das matines, corríamos a brincar de cowboy imitando os personagens mais famosos, passando o restante da tarde feliz e contente.
Nosso saudoso cinema, também foi palco de programas de calouros apresentados aos domingos após as matines, pelo Boliviano, com seu jeito castelhano misturado com o português, de falar. Lembro-me dos primeiros calouros a se apresentarem, Joãozinho Coelho, Dandão, Joel, a Lúcia Coelho e um rapaz com apelido de sãopaulino, esse era o que arrancava risadas da platéia. Até o famoso apresentador Bolinha, esteve aqui para apresentar seu programa, onde a Lúcia foi convidada a cantar na extinta TV Excelsior em São Paulo, que orgulho foi para nós!


Muitas pessoas que trabalharam nesse cinema tornaram-se personagens pitorescas e muito conhecidas do nosso povo, tais como: João da Nazira, o porteiro, a D. Nilza, a bilheteira, Nadir, operador de máquinas e locutor, o lanterninha Pirambóia. A D. Lurdes de Salles e Cida 13, com sua loja de doces e muitos outros que passaram por esse templo de diversão e orgulho para nosso povo.
Muitos namoros foram iniciados durante as sessões de filmes e muitos acabaram em casamentos. Esse monumento que fez parte da nossa história, da minha infância, findou-se na década de 80, sucumbindo aos avanços tecnológicos da televisão. Sina de muitos cinemas brasileiros que hoje viraram templos evangélicos e no nosso caso, uma loja de móveis.
Fica aqui um depoimento saudosista de um apaixonado pela sétima arte e, principalmente pelo nosso Cine Guaíra, local de sonhos e fantasias de muitos carlopolenses, que saudade!

Salim Luis Atum.